Deserto de Niman

No meio das dunas do deserto uma figura vestindo um manto bege com capuz caminhava, o capuz escondia os olhos esverdeados do garoto e seu curto cabelo castanho, porém não escondia seus lábios secos que exigiam por água, segurava em sua mão direita um cantil furado, uma gota de suor escoria pelo lado de seu rosto.

--Eu vou morrer, nesse ritmo eu vou realmente morrer...

Após mais alguns passos em silêncio, um pequeno aperto no estômago e um som sinalizando que o mesmo exigia por comida, colocava a mão esquerda na barriga. As pálpebras começavam a pesar de cansaço.

--eu não queria morrer assim... Ou queria? Provável que não. Sem memória, sem água, sem comida e cansado, tem como piorar?

E continuava a caminhar...

Muito tempo havia se passado desde que aquele jovem encontrou-se naquela situação desesperadora. Enfrentou tempestades de areais, o sol escaldante e o frio congelante do destemido deserto. E agora, seu corpo estava prestes a desabar, suas pernas fracas e seu estomago doendo-lhe na barriga.

Podia ver, ainda sim, no horizonte, algo se erguendo. Mesmo que instintivamente continuou seguindo naquela direção durante todo aquele tempo. O sol parecia bagunçar seus pensamentos, o calor tornando-se cada vez mais suportável, quando observou uma figura se aproximando lentamente. Era alta, tinha um formato semelhante a um animal, mas parecia não estar sozinha.

Amigo ou inimigo, o que seria realmente? Não parecia apressar seu galopar, continuando lentamente naquela direção, e estava distante ainda. Talvez sequer tivesse o notado.

Quase desabando no chão Chrux esticava sua mão direita em direção a silhueta de um possível animal como se tentasse a alcançar, assim derrubando seu cantil que já não possuía mais uso. Cada passo agora era um fardo enorme, elas fraquejavam, qualquer passo em falso resultaria em sua queda e consequentemente, devido a sua exaustão descomunal ficaria lá para apodrecer.

--Será uma miragem? É muito provável, porém se não for essa pode ser minha última esperança.

Fechava seu punho com força e com um esforço usando suas últimas energias ajeitava sua postura e em passos longos começava a caminhar em direção ao possível animal, está até então era sua experiência mais desgastante ou pelo menos é o que o garoto se lembra de ter.

--Ajuda! Socorro!

Com a garganta seca a ponto de parecer que poderia se desfazer em grãos de areia o garoto gritava por ajuda, sua voz saia desgastada e não muito alta apesar dos esforços.

Talvez para sua surpresa a figura pareceu parar brevemente. Sim, parou. Chrux acabou tropeçando, caindo de cara na areia escaldante. Era demais...

Suas esperanças se esvaiam, quando começou a sentir a areia tremer, e o som de um galopar ficando cada vez mais próximo. Aquela figura de antes - aquela "miragem" - estava chegando perto, e agora dava para definir que havia um rapaz sentado sobre um camelo. Seu rosto estava completamente envolto em panos, tornando indistinguível sua identidade, mas, assim que o mesmo se aproximou, desceu do camelo habilmente e foi até Chrux, abaixando-se e tentando o auxiliar para se levantar.

- Rapaz?! - Estava claro o choque dele diante de encontrar uma figura como ele no meio do deserto. - Vem, consegue ficar de pé? O que você está fazendo aqui?!

Pela voz deu para distinguir que se tratava de um homem, e enquanto o auxiliava, o mesmo olhou ao redor, como se certificasse de algo.

uma sensação refrescante de esperança atravessava o corpo de Chrux. Tentava se levantar se apoiando no homem coberto por panos, o capuz caia de sua cabeça nessa tentativa.

--Ah, graças a deus estou salvo. Com sua ajuda consigo me levantar sem problemas

Sua voz ainda estava falha e arranhada por conta de sua garganta seca e com ajuda do homem ficava de pé, era fácil de perceber que seu cabelo estava encharcado de suor e que seus olhos mal se aguentavam.

--Olha eu realmente não lembro do por que de estar aqui, mas sentia que não deveria ficar parado

Com uma tentativa de rir o garoto perdia as forças nas pernas novamente e quase caia no chão novamente, se não estivesse se apoiando com certeza teria caído, não com certeza nem teria levantado.

O desconhecido segurou-o firme pelos ombros e acabou suspirando.

- Você está bem fraco, talvez o calor tenha confundido seus pensamentos.

Passando o braço direito do mesmo por cima dos ombros e o abraçando de lado, o seu salvador firmava-o e guiou-o até o animal.

- Vou te levar para um lugar melhor.

Com certo esforço, o homem jogou-o para cima do animal, e subiu em seguida. O cheiro do pelo encheu suas narinas e pôde sentir que o mesmo preparava-se para se movimentar, mas antes, deu uma pequena pausa, desamarrando algo da cintura e se virou para o rapaz. Quando vislumbrou o que era, notou que se tratava de um cantil, e o desconhecido estava oferecendo para que bebesse.

- É água.

Pegava o cantil com as duas mãos, pois fraco do jeito que estava era provável derrubar caso usa-se apenas uma mão e como se fosse a melhor água do mundo virava o cantil em sua boca, havia bebido mais ou menos metade do que havia originalmente no cantil.

--Ah! Isso estava ótimo muito obrigado.

Sentia-se completamente restaurado, mesmo esse não sendo o caso, afinal ainda estava exausto e com fome, sua voz entretanto já retornara para um tom jovial e menos velho e arranhado.

--Novamente muito obrigado, eu sou Chrux e quem seria você?

Deu para perceber que o desconhecido veio a sorrir um tanto contente pela restauração parcial do rapaz, pegando o cantil de volta e guardou onde estava anteriormente.

- Ramman, sou um nômade. - Pegando a guia do camelo, os dois começaram a se movimentar. - Vou te levar para um lugar onde possa descansar e se alimentar, não fica longe.

-> Taverna Abandonada