Funerária Onix

Entrei no local e fui na direção de quem estava na recepção.

— Olá, vim pedir por um trabalho. Leendert Mirchea, por favor — falei, me identificando logo após.

Os pés levavam-o de forma serena em direção a uma estrutura de aparência tanto gótica por fora quanto dentro — algo que veio se provar logo de cara assim que adentrou, o que não fez com que Nauthiz se amedrontasse e desistisse do seu objetivo. Observou os pequenos detalhes que faziam o cômodo da recepção se tornar um local macabro e misterioso, gastando seu curto tempo de caminhada até o balcão principal, além de notar que havia outro consigo. Ficou com o corpo em repouso.

— Olá, perdoe-me a interrupção. Seria de agrado encontrar um trabalho, será que há algum disponível?  — se pronunciou de forma tranquila e educada, o tanto que sua intensidade poderia manifestar-se.

— Obrigado — e assim subi para o último andar, em busca daquele que daria a minha missão.

O de cabelos verdes curvou-se diante da figura que recepcionou ambos em ato de agradecimento. De seguida, logo tomou rumo para o andar baixo, a procura do trabalho que estava ansiando.

Enquanto descia as escadas, meio ao seu caminho, Nauthiz deu de cara com um cômodo que assemelhava-se a uma dispensa. Poucas exceções eram abertas quando o assunto tratava-se de desviar do objetivo principal, no entanto, ao avistar uma garota, o pensamento rápido o induziu a questioná-la o porquê. Não por interesse ou preocupação, somente desejando sanar a curiosa mente.
  
— Hm? Olá, posso ajudá-la, senhorita?

A garota parecia um pouco desajustada, parecia estar guardando algo ou até tirando algo do lugar, pelo seu jeito era impossível detectar oque ela estava fazendo de fato, porém com a chegada do homem desconhecido e sua voz foi ouvida pela tal, ela da um leve pulo encolhendo os braços, parecia estar em uma posição antiga e estranha, além de única, de luta.

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Pelo barulho que fazia, não iria entrar sem antes bater na porta e pedir com licença. E assim fiz, dei dois toques na porta e depois de abri, falei:

— Com licença, estou atrapalhando algo?

— Perdoe-me a interrupção, já estou de saída. Sou Nauthiz, prazer em conhecê-la. E, bem, estava procurando por alguém.. mas acho que acabei parando no lugar errado. — respondeu rápido e simples, sem querer demonstrar qualquer hostilidade contra a garota. Uma das poucas coisas que não gostava, de fato, era causar intervalos. Pouco a pouco a mente fazia com que a curiosidade do rapaz se tornasse mais ampla perante a situação, deixando escapar o seguinte: — Se não for demais, posso perguntar o motivo não é permitido?

Nauthiz notou que havia conseguido acalmar razoavelmente a pequena menina. Talvez a mesma estivesse prestes a atacá-lo se não tivesse usado tais modos, o que o fez se sentir internamente aliviado, e até mesmo, feliz. Não estava a procura de intrigas. Assim, sentiu-se ser empurrado para fora do local e apenas começou a caminhar por conta própria para o andar de cima — Estou indo, estou indo. E não me chame de cabelo de alface, anão de jardim. — brincou com a voz um pouco mais raivosa, afundando as mãos nos bolsos do sobretudo.

Por fim, aparentou desistir de analisar o que realmente estava escondido no cômodo ao subir para o último andar, não se dando por vencido. Demorou um pouco, mas a memória eidética do homem ajudaria-o depois. 

Bateu na porta cuidadosamente, girando a maçaneta sem pressa. Foi praticamente engolido pelo clima do local indicado pela pessoa que o recepcionou sem nem ao menos estar dentro, este se aparentando mais misterioso que os restantes na sua estadia — Olá. Será que eu poderia entrar? — perguntou baixo, permanecendo em repouso no aguardo da resposta.

*Quando Leendert Mirchea entrou na sala após dar dois toques o homem de moicano vermelho que estava ali se exaltando voltou o olhar para o mesmo parecendo conter uma certa raiva contida, não era algo de se assustar mas parecia que o assunto dito ali não era para seus ouvidos*

-Tsc. -Somente isso que foi comentado e ele logo saiu da sala e mesmo que enraivecido não tocou no dragão que entrou nem nada. Logo atrás de uma espécie de balcão iluminado por um abajur peculiar estava a lider dos Falazure que mantinha-se ali sentada mantendo o cranio de uma caveira em seu colo.

-Não se preocupe com isso, terminamos o que tínhamos que terminar, o que deseja? -Comentou para com aquele de mesmo clã mantendo o olhar fixo no mesmo, era como se pudesse ler sua alma.
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*Nauthiz acabou sendo empurrado pelo ruivo que ali saia sem querer já que ele aparecia na porta bem no momento que o outro iria sair, este que acabou o olhando mas depois voltou o olhar para frente, era como se quisesse ter se desculpado mas não o fez por orgulho. Com a entrada daquele outro parceiro de Clã, a líder percebia que talvez todos os seus tivessem liberdade demais, já era a segunda vez que alguém simplesmente entrava em seus aposentos que além do abajur era também iluminado por diversas velas "douradas*

-Entre e seja bem vindo. -Comentou mantendo o sorriso fino na face esperando a dupla então dizer o que queriam ali a visitando.

— Vim a procura de um trabalho, senhorita — falei, me curvando um pouco em sinal de respeito. O olhar da garota penetrava de um jeito especial em mim, por isso, não aguentava olhar nos olhos dela, então mantive minha cabeça abaixada ou encarando outro lugar.

*Sentada ela fazia carinho naquele cranio que parecia não ter nada demais, mantendo-se então observando os dois rapazes ali já tendo em mente o que aquele ruivo havia dito, agora era questão de saber se os dois queriam trabalhos*

-E você? Também deseja algum? -Perguntou ao jovem de cabelos verdes e voltou a atenção ao dos fios de tom mais claro. 

-Sobre seu caso, você parece ser um homem bem discreto então vou confiar a você essa missão, vejamos... -Os olhos daquela cabeça brilhavam em roxo sem mais nem menos e ela começava a falar no lugar da lider que a portava, sua voz era um tanto engraçada.

-Aqueles que vivem no céu noturno sabem mais que o diurno! Siga de forma "cortez" e tente descobrir o que se passa em todo o Reino! -A mulher então acariciou aquela caveira que falava sendo que as outras que estavam ali se moviam também, algo meramente observativo, todas de olhos roxos e brilhantes que surgiam do nada em meio ao vazio de suas orbitas.

-Uma boa ideia, acho que você consegue se falar com jeitinho com os Ymir, mas lembre-se, isso é uma missão secreta então você não deve citar nossos nomes, nosso clã é conhecido por isso, por sermos discretos e agirmos fora do campo de visão do nosso querido Onaga, então pode ir e boa sorte, quando terminar pode vir até mim e eu darei sua recompensa. -A caveira que estava no colo começava a "rir" mas nenhum som saia, então ela só ficava ali batendo os dentes.

— M-me desculpe — falei, um pouco nervoso por recusar o trabalho. Mas, tinha que pensar em Yue, não poderia levá-la lá — Não teria outro tipo de trabalho? Não sou especializado em missões furtivas. Não teria algo mais local, ou ao menos que não envolvam os sagrados? Por favor, me perdoe mais uma vez por rejeitar a missão — falava, ainda com a cabeça abaixada e com o corpo um pouco na diagonal, mostrando que realmente sentia muito.

Quando finalmente Nauthiz terminou de girar a maçaneta, sentiu uma figura forte empurrá-lo ao mesmo tempo que deixava o local. Em resposta, deu um pequeno pulo para poder equilibrar-se alguns passos atrás da porta, enquanto os olhos âmbares seguiam o homem que tinha uma faceta meio irritada, imaginando o que poderia ter ocorrido lá dentro — eram várias possibilidades, tanto que resolveu não dar muita importância ao fato de não ter recebido um simples ''Desculpa''. A tolerância do draconiaco era suficientemente alta para entender a cabeça de uma pessoa irritada ou qualquer que fosse o problema que tal manifestasse. Raras eram as vezes que o mesmo perdia a calma.

Neglicenciando os acontecimentos anteriores, somente adentrou a sala com uma iluminação levemente dourada, não esperando os mínimos segundos passarem lá dentro para curvar-se diante da líder — Com licença, Vossa Excelência. — ficou com a cabeça erguida para dá-la uma resposta rosto a rosto, sem querer parecer rude, enquanto o braço destro repousava colado ao peito — Também vim visitá-la para conseguir um trabalho. Espero não estar atrapalhando a senhora, mas poderia ajudar-me? — finalizou, ficando em silêncio.

*Manteve-se de olho naquela dupla e não esboçou reação negativa perante a recusa, aquele rapaz deveria ter seus motivos para recusar ir ao encontro dos sagrados e isso não era problema, na realidade era um evitar deste já que levando em conta ele não ser o tipo furtivo tudo seria posto a perder*


-Não precisa se preocupar com isso, na realidade eu aprecio sua sinceridade. -Mantinha-se com aquele sorriso fino e misterioso e colocou o cranio sobre a mesa que abria a boca e fazia a luz sair de seus olhos projetando o que seria entendido como um holograma frente a dupla.

-Como puderam ver, aquele que saiu daqui era Sardior, o líder do clã dos Vermelhos. -Durante a explicação de Falazure, a imagem "holográfica" frente aos dois tomava a forma de um pantano.

-Ele veio comigo pedir para que eu mantivesse segredo sobre o feito dos membros do clã dele, basicamente eles invadiram essa área bêbados em busca do Rei local e acabaram por desaparecer em meio a mata. -A imagem mudou dando forma a uma cena em particular onde um cavaleiro oriental de armadura "rubra" se encontrava cercado de "reptilianos" que ironicamente mantinha uma boa pinta e não sua forma medonha de lagartos.

-Esse foi o único membro que consegui localizar por ser o único que está a vista, ele se chama Vanneth e mesmo que a situação pareça sobre controle eu acredito que ele não faz ideia de que existem amigos dele perdidos naquele lugar junto a ele. -A mulher então enfiou os dedos nos olhos da caveira mantendo seu palmo sobre a mesma para então "desligar" aquela "tela".

-Se puderem, eu gostaria que fossem até lá e resgatassem os Sardior que se encontram ali, pode ser algo um pouco difícil já que nem eu mesmo encontrei os outros perdidos, mas realmente preciso de alguém dos meus para ir até lá e servir de testemunha para quando eu ir até Onaga e repassar esse incidente, aceitam essa missão? 

— Se este não se importar de trabalhar comigo, não tenho nada a reclamar — falei, virando meu rosto um pouco para o garoto de cabelos verdes, não o encarando, mas poderia vê-lo claramente.

Manteve-se atento ao que sua superior dizia, enquanto simultaneamente, observava o holograma. Sinceramente, Nauthiz achava que estava tudo bem em trabalhar com outra pessoa, ainda mais podendo pelo fato que poderiam confiar um no outro, por obra de serem do mesmo Clã. Mesmo que não fosse extremamente necessário sua memória eidética ser utilizada, todas as informações sobre o trabalho estavam bem guardadas com o homem, que finalmente respondeu — Me sinto agraciado pela paciência da Excelência em atender meu pedido. Mesmo que seja difícil, farei o possível para resgatá-los e trazer a maior quantidade possível. — e sorriu de forma singela.

Logo, virou suavemente o rosto para seu semelhante, balançando positivamente a cabeça para sua pronunciação — Sem oposições. Talvez seja nosso único trabalho, no entanto, será bom interagir com o senhor. Sou Nauthiz. 

*Lisonjeada pela prestatividade daqueles de seu clã, Falazure continuava a sorrir de forma fina devido sua satisfação em poder confiar naquela dupla para a missão*

-Acredito que esteja tudo bem, podem seguir então até o Pantano de Gandalfr, recomendo que se dividam para cobrir a maior area e que algum dos dois tente achar Vanneth, mesmo que ele não precise de ajuda seria bom que ele ajudasse a encontrar os amigos do clã dele. -Comentou a líder enquanto pousava suas duas mãos sobre a caveira que estava sobre sua mesa e depois o queixo sobre as mãos se "debruçando" ali.

-Dispensados! -Disse aquela cabeça que começava a gargalhar novamente naquele riso mudo.

Curvei um pouco o meu corpo, para uma reverência e então olhei para o garoto de cabelos verde e fiz o mesmo, só que só com a cabeça. Comecei a andar em direção da fora da sala e lá esperei ele, para falar sobre a missão.

— Que tal nos encontrarmos na entrada do pântano? — perguntei, assim que ele saiu da sala da chefe. Não encarei ele, evitava olhares como sempre, mas era obvio que estava falando com ele.

Assim como o de cabelos platinados, Nauthiz curvou-se antes de deixar a sala, retribuindo o fino sorriso da superior que estendeu-se mais por curtos segundos. Fechou a porta ao finalmente deixar o local, ouvindo as palavras do semelhante — Claro. Nós encontraremos lá, então, para depois se separarmos como fora sugerido. Qualquer coisa que ainda houvermos para decidir, faremos-o ao chegar, certo? — perguntou com calma, e somente ajeitou o sobretudo para poder acabar a estadia na funerária, tomando rumo ao pântano.

M.D.T — Pântano de Gandalfr.

Não o respondi, apenas assenti. Acenei com a cabeça assim que ele começou a ir embora e então, alguns segundos depois, fiz o mesmo. Mas, não na mesma direção que ele, teria que passar em casa primeiro.